03 dezembro 2010

DIA DO SELO

Comemorou-se mais uma vez, no passado 1º de dezembro, o Dia do Selo.

Cumprindo uma tradição que já se torna um ritual, o Núcleo Filatélico e de Coleccionismo de Braga, levou a cabo uma Mostra Filatélica, patente ao público no piso térreo da Casa dos Crivos, entre os dias 28 de novembro e o 1 de dezembro, dando oportunidade ao público em geral, de apreciar as colecções, ou parte delas, reunidas e tratadas pelos seus associados.

Não podia ser mais feliz a escolha do local para esta manifestação, dada a sua centralidade urbana, o simbolismo do edifício e o seu redimensionamento para o efeito.

Este tipo de iniciativas, aproveita a evocação da efeméride, não só para fomentar a iniciação à filatelia junto das camadas mais jovens e chamar à agremiação sangue novo, como também reanimar os ânimos daqueles que durante muitos anos têm juntado selos sem contudo conseguirem estruturar uma colecção, permitindo ainda aos que, assíduos frequentadores das instalações do Núcleo, possam exibir publicamente um trabalho, fruto de muita dedicação, disponibilidade, estudo e também de algum investimento financeiro.

Para a posteridade ficam os postais, sobrescritos, selo e carimbo emitidos e colocados no local à disponibilidade dos interessados. O desenho escolhido, em obediência à politica de divulgação dos monumentos concelhios, reproduz a Ponte do Porto, ponte medieval que atravessa o Cávado e liga o concelho de Braga ao de Amares.

Ao Núcleo e especialmente ao seu presidente, deve a comunidade de filatelistas ficar grata.


10 outubro 2010

PORTUGAL 2010

Quem não visitou a “Portugal 2010” que hoje encerrou, perdeu a oportunidade única de apreciar e ver reunidas as mais fabulosas e valiosas colecões filatélicas do mundo, que pela primeira vez se exibiram no nosso país.

Tendo por motivo a comemoração do centenário da implantação da república, assunto por si só suficiente para a elaboração e o aparecimento de vários estudos e acervos temáticos, coube à iniciativa conjunta dos CTT e da Federação Portuguesa de Filatelia, com o patrocínio imprescindível da FIP (Federação Internacional de Filatelia), da FESA (Federação Europeia de Associações Filatélicas) e da AIJP (Associação Internacional de Jornalistas Filatélicos), levar a cabo tão importante e prestigiante evento para Portugal e particularmente para a filatelia portuguesa.

Aberta a todos, foi naturalmente a pensar em todos a determinação do local para o evento - a FIL. Excelentemente localizada, para os de Lisboa e para os que vivem fora dela, beneficia de espaços modernos, bem estruturados e redimensionados e de acessibilidades ímpares .

O material exposto trouxe ao comum dos filatelistas e ao público leigo, a oportunidade de contemplar espécimes raros, valiosos, primorosamente tratados e seriados, fruto de árdua pesquisa, significativos suportes financeiros, mesclados com imensa perseverança, teimosia e dedicação e fonte de forte manancial de conhecimento, cultura e história.

Como bracarense congratulo-me com a participação de dois importantes filatelistas conterrâneos, meritoriamente medalhados, um na temática de “Comboios” (J.Alves) e outro em aerofilatelia com “Zeppelins” (J.Costa).

Por último, faço aqui um reparo sobre a atitude oportunista evidenciada por algumas administrações postais, que provavelmente pretenderam transpor para os visitantes o custo da sua presença, ao cobrarem importâncias que considero exorbitantes, na franquia da lembrança da exposição, que é o Passaporte Filatélico. A esse propósito, era importante saber qual o peso de 2 euros (valor cobrado por S. Tomé e Príncipe, p.e., mas não foi caso único) no salário médio de um natural.

                                              Busto da República de Luis Macieira



Aspeto parcial da exposição

28 setembro 2010

PORTUGAL FILATÉLICO

O primeiro de dezembro de 1909 marca o lançamento do “Portugal Filatélico”, revista mensal dedicada a todos os colecionadores, com sede no Campo de Sant`Ana, 112, que tinha como editor João Barata e diretor e proprietário, D. de Melo. Era uma publicação bilingue, editada em português e francês, vocacionada essencialmente para noticiar as emissões filatélicas que ocorriam pelo mundo fora e também para a difusão de anúncios de permutas e comercialização de selos. Publicação vanguardista, única no panorama editorial e filatélico da cidade, haveria de subsistir largos anos, impondo-se num mercado pobre e provinciano.


Apesar da filatelia estar a viver ainda a sua fase de adolescência era já significativo o número de interessados que recorriam aos serviços da publicação, muitos deles, senão a maioria, de origem estrangeira, sendo de facto o espaço destinado aos anúncios o que mais espaço nela ocupava, pormenor que não era de estranhar, uma vez que a divulgação de estudos ou artigos de fundo sobre filatelia, era ainda incipiente.

Curioso o alerta que a partir de certa altura era dado aos leitores, “para não confundirem nunca o Portugal Filatélico de Braga, revista mensal dedicada a todos os colecionadores, fundada no 1º de dezembro de 1909, com o Portugal Filatélico de Aveiro, fundado em março de 1911, dum sr Baptista Moreira, cujo nome figurava na Lista Negra da Revue Postal de Liége”.

A publicação deixou de ser vista a partir de 1915.

(Parte superior da primeira página da publicação)



(Carta dirigida ao jornal por um colecionador francês)


31 agosto 2010

BRAGA:Contributo para a história dos correios e da filatelia

Dando corpo ao DL 38860 de 12AGO1950, que criou o Serviço de Auto-Ambulâncias Postais, é, em 01SET54, inaugurada a viagem Porto-Braga-Fafe.
O evento foi marcado com pompa e os jornais locais fizeram dele um marco importante de modernidade e progresso ao sublinharem em uníssono:

“Realizou-se ontem a inauguração do novo serviço de Auto Ambulâncias Postais, melhoramento que vem prestar não só à cidade como às populações rurais, inestimáveis serviços.
O carro vermelho com o distintivo dos CTT chegou a Braga pelas 10,35 horas, acompanhando-o além do respectivo pessoal condutor e expedidor, o Chefe de Serviço de Gabinete do Correio-Mor, Sr Medeiros Ramos, o qual na sua chegada ao edifício dos Correios de Braga, manifestou o seu contentamento pela maneira como as populações e autoridades principais do percurso saudaram este novo melhoramento.
(…) No momento da chegada da ambulância, elevado número de filatelistas desta cidade, pediu que lhe fosse aposto nos selos o carimbo especial do acto inaugural, o que se verificou a pleno contento dos interessados.
A ambulância largou daqui com destino a Guimarães e Fafe pelas 10,50 horas, verificando-se na freguesia de Esporões a primeira manifestação de júbilo.
(…)A Auto-ambulância parará em qualquer ponto do percurso desde que seja feito sinal conveniente, recebendo correspondência, encomendas, vales e tudo o mais que costume nas estações fixas, até a aceitação de telegramas”.
À sua chegada a Guimarães a comitiva foi alvo de repetida e acalorada receção, aproveitando o presidente do município, no arrebatamento do discurso de boas vindas e agradecimento, para aferroar na perene rivalidade entre as duas cidades vizinhas, sugerindo aos responsáveis dos CTT presentes, a alteração do itinerário do serviço, o qual do Porto passaria por Santo Tirso e depois Guimarães, dizia, para beneficiar toda aquela zona fabril.



26 julho 2010

MADRID

Em recente passagem por Madrid, numa espreitadela às montras das casas da especialidade, deparei com um objecto que desde logo me interessou.

Entrei na loja e pedi que me fosse facultada a possibilidade de o analisar mais detalhadamente, o que abriu caminho a um redobrado interesse na sua aquisição. Acabei por fazer negócio pelo preço que estava marcado, de nada valendo o marralhar, próprio de tais actos e que normalmente dá os seus frutos.

Trata-se de uma carta registada, profusamente franquiada, na frente e verso, expedida de Braga, em Outubro de 1938, com destinatário em Buenos Aires. O que de notório tem a carta, por deslocada no espaço, é a apologia do movimento liderado por Franco, envolvido no conturbado momento político-militar que então se vivia na vizinha Espanha, retratada no busto do general, aposto no canto superior esquerdo, subscrito com a palavra “El Caudillo”, e com um “VIVA ESPAÑA”, inscrito na parte superior direita.

Esta relevância fica mais ou menos explicada quando visionado o verso do envelope e se conclui pela origem hispânica do nome do remetente, provavelmente espanhol, o que, se pode ajuizar, tratar-se de algum refugiado alojado numa casa de hóspedes que então existia no local apontado, hipótese que com o tempo procurarei esclarecer.

Do destinatário, sabe-se que na altura publicitava a “troca de selos” no ABC de Madrid.


02 maio 2010

Filatelia em Braga

Hoje fui às compras mas vim desiludido.
Por ser o primeiro domingo do mês, desloquei-me aos claustros da Rua do Castelo onde habitualmente se realiza a feira de coleccionismo, pretexto para os coleccionadores se encontrarem e actualizarem-se com as novas que vão surgindo.

Mas inexplicavelmente, o recinto estava vazio ou quase, salvando-se o encontro pela presença de apenas três vendedores. E nem o tempo pode ser invocado para o seu falhanço, uma vez que a manhã estava radiosa e de temperatura amena.

Mesmo assim adquiri dois postais circulados: Um datado de 1918, passado pela censura, enviado de Braga para França, tendo como destinatário um capitão veterinário e remetido pela noiva; um outro mais recente, datado de 1933 e expedido de Berks-Inglaterra por um senhor que presumivelmente passou pelo norte do país, dirigido a uma “Comissão de Iniciativa” que não faço ideia do que se trata, mas que seguramente sediava-se nesta cidade.

Já agora, por me interessar pela importância que a filatelia vai tendo com Braga, convido aqueles que possam dispor de documentos ou peças filatélicas relacionadas, a um contacto e eventual negociação.

11 abril 2010

Macieira

O João era pintor de automóveis, rapaz diligente, assíduo, interessado e brioso naquilo que fazia. Era um bom profissional.

Gostava muito de mulheres, podemos até dizer ser esse o único vício que se lhe conhecia, fazendo por e para elas tudo o que fosse necessário para lhes cair no goto. Por isso, apostava forte na promoção da sua imagem, investindo parte significativa do salário em roupas e o restante noutras extravagâncias.

Não tendo vícios, também não se coibia de puxar de cigarro ou meter-se nos copos, sempre que os fins o justificassem.

Na sua cruzada de marialva não conhecia fronteiras nem receava contrariedades, mostrando uns tiques de ousadia, desfaçatez e atrevimento, que, julgava ele, lhe emprestavam uma superioridade e proeminência invulgares.

Mas a manutenção deste estado de espírito era trabalhosa e por vezes, não poucas, esbarrava em obstáculos incontornáveis, parte deles, os mais pertinentes, eram-lhe próprios: o de não conseguir esconder completamente, por mil tentativas que fizesse, a tinta que no exercício da sua profissão teimosamente se agarrava às extremidades das unhas; e o descontrole emocional que se manifestava sempre que por qualquer circunstância era beliscada a sua auréola de proclamada autoconfiança.

A testemunhar esta última fraqueza existem muitos casos, alguns deles a motivarem o júbilo e troça de quem o acompanhava, como aquela ida a um bar que visitava pela primeira vez. Quando o empregado se abeira e pergunta o que pretendia, o João, num timbre de voz firme e colocado, solicita:

-Traga-me uma Macieira – que era a bebida da moda.

- De cinco ou três estrelas? – questiona o empregado.

Maldita interpelação que pôs a nu a sua ignorância. Desconhecia completamente a existência destas duas alternativas que a marca oferecia. O verniz mais uma vez estalou e furioso rematou:

-O senhor está a gozar comigo ou quê?



18 março 2010

O incêndio

No início da passada semana Braga foi surpreendida por um acontecimento inédito na sua história. Refiro-me ao incêndio ocorrido no edifício mais alto do burgo, ainda em fase de conclusão, futuras instalações do hotel mais estrelado da cidade e arredores.

À surpresa sucedeu a perplexidade dos bombeiros locais não disporem de uma escada apropriada para casos tais, necessária ao combate mais eficaz às chamas, sujeitando-se à humilhação de terem de recorrer aos préstimos de duas corporações vizinhas, sediadas em localidades que pela sua dimensão, menores responsabilidades têm no confronto com este tipo de situações.

A coisa não caiu bem, e forneceu substrato à classe que faz da crítica a sua forma de estar, que não se coibiu de zurzir em todas as direcções, opinando sobre aquilo que deveria ser a mais correcta postura das autoridades e sugerindo até medidas eficazes para a prevenção de tais ocorrências.

A oposição bafejada com o mal dos outros, agradeceu o providencial acontecimento, chegado fora de época, é certo, para mais uma vez atacar os responsáveis pela edilidade e reiterar a denúncia dos costumados, segunda ela, erros de que enferma a sua política urbanística.

Vieram então à praça os sapadores defender o seu bom nome, e também a dedicação e profissionalismo dos seus homens, garantindo disporem dos meios materiais e humanos necessários para refrear este tipo de adversidades; que até dispunham de duas escadas, uma, verdade seja dita, cuja avançada idade não lhe permitiria grandes façanhas, e outra, mais moderna, que numa das poucas oportunidades para mostrar a sua valia, recentemente ocorrida, galgou um passeio e capotou, estando agora sujeita a tratamentos vários, necessários à recuperação da sua operacionalidade.

Espantado fiquei quando no final da tarde de sexta-feira, de regresso a casa, ao circular nas imediações do quartel dos bombeiros, deparei com um inusitado intruso no habitual enquadramento paisagístico, que lhe roubava a monotonia e assumia uma atitude provocatória. Era uma escada “magirus” na sua imponência, e como diz alguém, firme e hirta, erecta aos céus. Mostrava que existia e que estava ali para o que fosse preciso, desmentindo as vozes da maledicência e sossegando os temores dos mais sugestionados munícipes.

Esperemos agora que na próxima vez que seja posta à prova, como todas as coisas que se soerguem e estendem, não comprometa os seus.

01 março 2010

Kusudamas caseiros

O fim duma carreira

Numa das minhas incursões culturais, como forma de combater o ócio das férias grandes, enquanto visitava uma exposição de arqueologia patente ainda nas instalações provisórias do Museu D. Diogo de Sousa, a ocupar espaço no edifício da biblioteca pública, fui abordado por um individuo pretensamente com responsabilidades na orgânica do evento, que me questionou sobre um eventual interesse na frequência de um curso de verão, relacionado com aquela área de investigação.

Após breves explicações sobre a forma como se desenrolaria, sobre o local e o horário do aludido curso, não foi difícil obter a minha aquiescência, uma vez que esta proposta assentava perfeitamente nos meus interesses.

De acordo com o combinado, no início da tarde do sábado seguinte, lá me desloquei para o Conservatório Calouste Gulbenkian, onde foi ministrada a aula a uma plateia composta por pouco mais de uma dúzia de curiosos, nos quais me incluía.

A aula seguinte foi decisiva para o meu futuro na arqueologia.

Em pleno verão, sob uma temperatura tórrida própria dos dias mais agressivos da época, condições que só o amor à causa consentia incursões como aquela que estava a experimentar, decorria a aula com a normalidade esperada, quando a mesma foi interrompida por alguém responsável pela escola: Vinha fazer um pedido. Solicitar um favor.

É que naquele momento iria iniciar-se um concerto de violino para um auditório vazio e a única maneira de enganar o desaire era conseguir a nossa presença, que sempre compunha a sala.

Confesso que nunca fui entendido em música e muito menos adepto do violino, circunstâncias que não impediam a franca colaboração que a situação recomendava.

O espectáculo para mim foi penoso, tão penoso que não há memória de alguma vez ter encontrado uma cadeira tão desconfortável.

Escusado será dizer que na primeira oportunidade esgueirei-me porta fora, dando assim por terminado o curso proposto, perdendo-se, quem sabe, um promissor arqueólogo.



16 fevereiro 2010

Lagoas de Bertiandos



Sugiro uma espreitadela em dia de sol, numa qualquer visita a Ponte de Lima.

15 fevereiro 2010

O primeiro meio de transporte

Na aula anterior falou-se dos meios de transporte e nessa discussão, o saudoso professor Salvador Mendes, fez referência à mulher como sendo o primeiro meio utilizado pelo homem, defendendo a sua opinião com argumentos de fácil entendimento e de pacífica aceitação.
Estávamos agora em História. A professora, paradoxalmente, fazia-se notar pela sua baixa estatura, realçada propositadamente pelo uso de uma mini saia atrevida, fazendo sobressair as coxas morenas e entroncadas que deliciavam os olhares da rapaziada inocente e alimentava calados pensamentos. Era uma mulher solteira que conduzia um Mini e o seu vísivel estilo de vida colocava-a, naqueles anos 70, no patamar das mulheres independentes de quem era permitido fomentar a especulação de usufruirem experiências sonegadas às demais. Não era uma mulher bonita, mas era sensual, na apreciação de um puto de 16 anos.
Em circunstâncias diferentes falou-se de novo nos meios de transporte.O Borges, que era o bonitão da turma, e pouco depois havia de falecer num estúpido acidente de automóvel, em irreprímivel impulso da sempre aplaudida participação, fazendo eco da anterior lição, fez-se ouvir, afirmando que o primeiro meio de transporte utilizado pelo homem foi a mulher.
A intenção não foi devidamente apreciada pela professora, que ignorando o seu sentido literal, denunciou uma leitura que seguramente estava longe da que o Borges tinha, manifestando a sua indignação em modos que a todos impressionou, rematando:
- Pois fique sabendo que em mim nunca nenhum homem montou.
Inocentes que eramos, mas esclarecidos que ficamos.

07 fevereiro 2010

A controlar as visitas à Universidade de Évora

A erva

Bons eram os tempos em que os amigos se reuniam no saudoso salão de chá da Benamor, hoje convertido em sapataria, mantendo, felizmente, a traça arquitectónica primitiva. Já lá vão, uns bons 30 anos.
Rapazes ainda na idade da parvalheira mas já assumindo comportamentos de responsável vivência, todos eles trabalhadores, alguns deles também com o estatuto de estudante.
Era o convívio após almoço e jantar, servindo de sala de estar sobretudo ao fim-de-semana. Discutia-se o que nesta idade era discutível, acertavam-se encontros e semeavam-se desencontros, organizavam-se bailes de garagem e promoviam-se outras habilidades com o intuito de conseguir e consolidar os namoricos engendrados.
Num determinado sábado solarengo, dia em que estava aprazado um festival nocturno de música rock no Estádio 1º de Maio, o Aurélio, com intuito de fazer figura, discretamente questionou-me sobre a hipótese de lhe conseguir um pouco de erva, pedido que foi por mim acarinhado, abrindo-lhe perspectivas de que seria satisfeito.
Não encontro razões para lhe alimentar esse desejo, para além daquelas ditadas pela enorme vontade de brincar.
Da Benamor fui cumprir a rotina do namoro, passando a tarde a engendrar maneira de não faltar ao prometido.
E as coisas aconteceram naturalmente. Chegado a casa para o jantar, dei de caras com um ramalhete de cidreira seca que a minha mãe tinha pendurado numa das paredes da cozinha. Não podia arranjar erva de melhor qualidade que aquela posta ao meu dispor.
Quando cheguei ao ponto de encontro, já levava a encomenda previamente esmigalhada e envolvida em papel vegetal, dando ao conteúdo a dignidade condizente com o seu estatuto.
O nosso amigo, que já lá se encontrava, com os olhos brilhantes de curiosidade incontida, disfarçadamente me interrogou sobre o estado do pedido, ao que eu, alimentando o suspense que a situação merecia, com o indicador aposto sobre os lábios lhe recomendava prudente silêncio, enquanto com o mesmo dedo apontava para o bolso da camisa onde guardava a encomenda, posteriormente transferida para o bolso dele de forma discreta.
Cada um foi à sua vida, eu para o namoro, ele, em grupo com os demais, para o combinado concerto.
Na primeira oportunidade quis eu saber como tinha decorrido o espectáculo, e ao que me foi dado constatar, não podia ter sido melhor. Os efeitos da erva, previamente convertida em charros, foram de tal modo eficazes que todos passaram por momentos alucinantes de difícil descrição, impressionando quem à sua volta se encontrava.
Imagine-se o desalento daquelas mentes quando passados alguns dias abri o livro, dando a conhecer a verdadeira origem do produto.
Ficou a promessa duma vingança à medida.