Montedor é um lugar da freguesia
de Carreço, no distrito e concelho de Viana do Castelo, banhado pelas águas
frias do Atlântico.
Sobranceiro ao mar e no seu ponto
mais elevado foi construído um farol, que passados mais de cem anos ainda
cumpre a função para que foi criado.
O Farol de Montedor, assim se
designa, que rivaliza com os classificados Moinhos de Vento pela primazia na
procura turística, foi por mim visitado hoje, de forma inesperada, porque, no
trajeto que fazia até Caminha, me ocorreu fazer um desvio quando vi a sinalética
que o anunciava a quem passava. Conduzi o carro através da povoação e
serpenteando por estreitas mas bem tratadas ruelas cheguei ao cume onde está
implantado. Não foi a primeira vez que o visitei, mas uma outra vez, já lá vão
muitos anos, não lhe dei o devido apreço.
Cheguei ao mesmo tempo que um
grupo excursionista espanhol e aproveitei a visita guiada que lhes estava
destinada, e fiquei a saber coisas interessantes sobre aquele ou aqueles pináculos
cuja principal função é o de auxiliar a navegação através de sinais luminosos.
Entrou em funções em 1910, ano da
implantação da república, e foi construído numa estrutura granítica, que se
mantém inalterada, que aloja no seu interior uma impressionante escadaria em
forma de caracol, também ela em pedra dura da região, constituída por cento e
quinze degraus que antecedem uma outra escada em ferro, que por sua vez dá
acesso ao topo. Nesse topo está instalado o equipamento que permite o pretendido
aviso às embarcações, e esse sim, tem sido modificado tendo em conta a sua
otimização e a evolução da técnica.
Dos rudimentares pavios às
luminárias a petróleo e destas às atuais lâmpadas incandescentes, foram
diversos os meios que garantiram a orientação e asseguraram a navegação dos
barcos ao longo dos tempos.
Montedor é o farol mais
setentrional de Portugal e a sua localização obedeceu aos critérios
estratégicos definidos por entidade supranacional. Mais a norte tem por vizinho
um farol localizado já em terras de Espanha, enquanto a sul, o mais próximo
situa-se em Esposende. Os sinais luminosos emitidos, que têm um alcance de
vinte e duas milhas, terão de ser visíveis obrigatoriamente pelos dois faróis
vizinhos, de modo a garantir a eficácia e a normalidade do sistema.
Os sinais luminosos avisadores,
são diferentes em cada um dos faróis, permitindo à navegação obter uma rigorosa
localização. Primitivamente esses sinais eram acompanhados de avisos sonoros,
mas a pouca eficácia demonstrada e a indução a enganos que causava, motivados sobretudo
pela inconstante direção e intensidade dos ventos, levou ao seu abandono.
O seu acionamento diário,
efetuado outrora pela intervenção do faroleiro, é hoje automático, exercido
pela ação da luz, ou pela ausência desta, em células fotoelétricas instaladas.
Neste momento, a manutenção deste
e de todos os faróis portugueses está entregue à Marinha, que para o efeito tem
elementos seus destacados em serviço permanente, iludindo a antiga imagem do
faroleiro que normalmente exercia as suas funções em total isolamento, rodeado pela
família. Numa pequena mas elucidativa mostra museológica visitável no andar
térreo, podemos apreciar uma série de apetrechos hoje considerados obsoletos,
mas que tiveram a sua época como elementos imprescindíveis à sobrevivência e
desempenho do faroleiro.
À pergunta sobre a ainda
necessária recorrência a estes meios, numa era em que as novas tecnologias vão
dando respostas cabais a necessidades deste tipo, foi respondido que o velho
método é ainda o mais fiável, e daí a sua imprescindibilidade.