01 novembro 2017

No hospital

Encontrava-me no hospital, de visita a um familiar, quando a minha atenção foi acordada por um vozeirão, que alto e repetidamente clamava:
 -Ó enfermeira! Ó doutora!
E como ninguém lhe ligava, repetia:
-Ó enfermeira! Ó doutora!
A prece provinha de dois quartos adiante e saia convictamente da boca de um doente, que por sinal, já habituara os restantes desta peculiar forma de estar.
A curiosidade levou-me à porta do respetivo quarto e lá pude constatar que o doente era um homem forte, calvo e com a aparência de estar perto da casa dos setenta. Estava sentado na poltrona de napa ao lado da cama. Já também o confrontava uma enfermeira, que mantendo uma distância estratégica, o repreendia e elucidava:
- O senhor não pode gritar. Quando quiser alguma coisa tem aí a campainha para chamar pelas pessoas…
Mas o homem não se sentia incomodado com a repreensão, e com o braço esticado fletia os dedos da mão em chamamento.
-Chegue-se aqui! Chegue-se aqui! – Repetia.
-Não chego nada. Diga o que quer…Retorquia a enfermeira.

-Quero um beijo.

07 setembro 2017

A Brazileira em selos

A Brazileira de Braga abriu portas ao público num domingo, dia 31 de março de 1907, coincidindo a sua abertura com as manifestações de regozijo dos moradores locais pelo início das obras de construção do edifício que se tornaria emblemático e que lhe está defronte, destinado às várias repartições públicas.
Pela iniciativa de Adolpho d`Azevedo, um ilustre comerciante portuense, seu proprietário, A Brazileira instalou-se no prédio que faz esquina com o Largo Barão de S. Marinho e a Rua de S. Marcos (nºs 17-18 e 2-8, respetivamente), assumindo a condição de estabelecimento especial de café do Brasil e propondo-se vender e propagandear outros produtos brasileiros. A par deste objeto, estendia a sua atividade à comercialização de especiais azeites, vinhos finos e de consumo da Parceria Vinícola de Lavradores do Douro.
A imprensa local dava conta que, num ato de invulgar promoção, a casa oferecia todos os dias, exceto aos domingos, desde as duas horas da tarde até às oito horas da noite, uma chávena de café, a todos os seus fregueses que comprassem pelo menos meio quilo do referido produto.
Esta ideia inovadora profetizava já um caminho de sucesso que hoje é possível confirmar. Passaram mais de cem anos e apesar das múltiplas mudanças, de gerência, de hábitos, de regras de mercado, continua a ser uma referência dos bracarenses e daqueles que visitam a cidade. Por isso, foi justamente escolhida para figurar numa série de selos alusiva aos “Cafés Históricos”, posta a circular pelos CTT nos finais do passado mês de agosto.
De parabéns estão os atuais proprietários, que em tempo oportuno apostaram em dar vida a uma casa que parecia agonizar; os seus fiéis clientes; todos os bracarenses e a cidade de Braga.



 

28 agosto 2017

A Marmelada do Costa

O obituário do DM (Diário do Minho) de ontem, participava o falecimento de José Pereira da Costa, um provecto cidadão que se finou aos 94 anos de idade.
Para a maioria das pessoas este nome nada diz, apesar de poderem existir muitas delas com nome idêntico. Para mim, que não sendo amigo, nem vizinho e muito menos familiar do defunto, a comunicação do desenlace trouxe-me à memória momentos de quando era eu um mero catraio e frequentava com assiduidade a loja que uma tia minha mantinha na rua dos Chãos. Isto nos idos anos 60 e 70 do passado século.
A minha presença na dita loja transformava-me num moço de recados que a minha tal tia aproveitava para lhe resolver faltas circunstanciais, a troco dalguns tostões sempre bem recebidos, e na minha pobre opinião, justamente merecidos.
Os encargos que me couberam tornaram-me num exímio conhecedor da rua e de todas as casas que nela tinham porta aberta, bem como das pessoas que as serviam e se postavam à frente dos seus balcões. De todas elas, gostava especialmente de ir à mercearia, porque o senhor Costa, ao contrário da fama de outros comerciantes, dispensava-me o trato educado e prestável que dispensava aos já crescidos.
Os anos passaram e naturalmente todo aquele cenário mudou. A mercearia entretanto fechou.

Desde aí e a cada passo, cruzava-me na rua com o senhor Costa, sempre mais velho e cada vez mais trôpego, mas sempre com aquele ar de pessoa de bem, que julgo que era. Associado à sua pessoa, recordo eternamente o cartaz que tinha na montra do estabelecimento e que me martelava o intelecto: “Toda a gente gosta da marmelada do Costa”.

05 agosto 2017

O Farol de Montedor

Montedor é um lugar da freguesia de Carreço, no distrito e concelho de Viana do Castelo, banhado pelas águas frias do Atlântico.
Sobranceiro ao mar e no seu ponto mais elevado foi construído um farol, que passados mais de cem anos ainda cumpre a função para que foi criado.
O Farol de Montedor, assim se designa, que rivaliza com os classificados Moinhos de Vento pela primazia na procura turística, foi por mim visitado hoje, de forma inesperada, porque, no trajeto que fazia até Caminha, me ocorreu fazer um desvio quando vi a sinalética que o anunciava a quem passava. Conduzi o carro através da povoação e serpenteando por estreitas mas bem tratadas ruelas cheguei ao cume onde está implantado. Não foi a primeira vez que o visitei, mas uma outra vez, já lá vão muitos anos, não lhe dei o devido apreço.
Cheguei ao mesmo tempo que um grupo excursionista espanhol e aproveitei a visita guiada que lhes estava destinada, e fiquei a saber coisas interessantes sobre aquele ou aqueles pináculos cuja principal função é o de auxiliar a navegação através de sinais luminosos.
Entrou em funções em 1910, ano da implantação da república, e foi construído numa estrutura granítica, que se mantém inalterada, que aloja no seu interior uma impressionante escadaria em forma de caracol, também ela em pedra dura da região, constituída por cento e quinze degraus que antecedem uma outra escada em ferro, que por sua vez dá acesso ao topo. Nesse topo está instalado o equipamento que permite o pretendido aviso às embarcações, e esse sim, tem sido modificado tendo em conta a sua otimização e a evolução da técnica.
Dos rudimentares pavios às luminárias a petróleo e destas às atuais lâmpadas incandescentes, foram diversos os meios que garantiram a orientação e asseguraram a navegação dos barcos ao longo dos tempos.
Montedor é o farol mais setentrional de Portugal e a sua localização obedeceu aos critérios estratégicos definidos por entidade supranacional. Mais a norte tem por vizinho um farol localizado já em terras de Espanha, enquanto a sul, o mais próximo situa-se em Esposende. Os sinais luminosos emitidos, que têm um alcance de vinte e duas milhas, terão de ser visíveis obrigatoriamente pelos dois faróis vizinhos, de modo a garantir a eficácia e a normalidade do sistema.
Os sinais luminosos avisadores, são diferentes em cada um dos faróis, permitindo à navegação obter uma rigorosa localização. Primitivamente esses sinais eram acompanhados de avisos sonoros, mas a pouca eficácia demonstrada e a indução a enganos que causava, motivados sobretudo pela inconstante direção e intensidade dos ventos, levou ao seu abandono.
O seu acionamento diário, efetuado outrora pela intervenção do faroleiro, é hoje automático, exercido pela ação da luz, ou pela ausência desta, em células fotoelétricas instaladas.
Neste momento, a manutenção deste e de todos os faróis portugueses está entregue à Marinha, que para o efeito tem elementos seus destacados em serviço permanente, iludindo a antiga imagem do faroleiro que normalmente exercia as suas funções em total isolamento, rodeado pela família. Numa pequena mas elucidativa mostra museológica visitável no andar térreo, podemos apreciar uma série de apetrechos hoje considerados obsoletos, mas que tiveram a sua época como elementos imprescindíveis à sobrevivência e desempenho do faroleiro.

À pergunta sobre a ainda necessária recorrência a estes meios, numa era em que as novas tecnologias vão dando respostas cabais a necessidades deste tipo, foi respondido que o velho método é ainda o mais fiável, e daí a sua imprescindibilidade.


04 maio 2017

Painéis decorativos


Mais dois exemplares, os últimos produzidos, inseridos na série que há meses venho divulgando através deste meio.
Ambos apresentam o mesmo desenho, mas assimétrico nas cores que são naturais, cujos elementos parecem entrelaçar-se, procurando dar um ideia de rede.
A cor escura de ambos é própria do sapeli utilizado, enquanto a clara, num, é atribuída ao pinho americano, enquanto noutro, deve-se à madeira de tília.
A moldura é de abeto, colorado com tinta de água.
As dimensões, como os demais, são de 30x30 cm. 










04 abril 2017

Painéis decorativos em madeira


A galeria está a crescer e abarca agora os dois mais recentes exemplares produzidos, num estilo de desenho semelhante, reproduzindo vários quadrados de diferentes tamanhos e centro comum. Os trabalhos foram executados em madeira de mogno e pinho americano, sobrepostos em placa de aglomerado. As dimensões são idênticas aos exemplares anteriores, ou seja de 30 x 30 cm. A moldura é um pouco mais larga que as anteriores, executada em abeto pintado.
Elementos destinados à decoração de paredes e móveis.

10 março 2017


Dou a conhecer os mais recentes trabalhos em madeira. Na sequência dos anteriores, revestem a forma de painéis decorativos, só que desta vez executados com material de melhor qualidade e acabamentos mais cuidados. Com efeito, as cores patenteadas são naturais, próprias do abeto, a mais clara, e do mogno, a mais escura, separadas, no primeiro caso, por finas folhas de castanho. O acabamento mais polido é rematado com óleo de linhaça.
A exemplo das peças anteriores, as dimensões são de 30 por 30 cms.


14 janeiro 2017

Painel decorativo

Inicio o ano insistindo na feitura de novos painéis decorativos em madeira, que podem ser colocados na parede mas também, dada a sua adequada dimensão, ser exibidos sobre móveis ou lareiras, por exemplo, apoiados em cavaletes apropriados.
Todos eles concebidos em madeira de pinho, nova ou reutilizada, em formato quadrado, com dimensões aproximadas de 30x30 cm.
O acabamento diverge, mantendo-se nuns a cor natural da madeira, enquanto noutros recorreu-se ao uso da tinta de água ou acrílica.












13 janeiro 2017

A capela de Santo Adrião da Corrica

Data de 1576 a construção da ermida popularmente conhecida por Capela de Santo Adrião da Corrica, a expensas de António Sobrinho, de acordo com a inscrição na pedra superior do arco da porta principal.
Trata-se de uma pequena construção de paredes e lajes graníticas e teto em madeira, de planta longitudinal, composta por alpendre, nave única, capela-mor e sacristia, edificada numa pequena elevação do lugar de Sto Adrião, e à qual se acede por escadaria em granito.
Apesar de localizada para além dos limites da cidade, nas Memórias Paroquiais de 1758 é referido que está adstrita à paróquia de S. José de S. Lázaro e que a ela concorre muita gente em romagem, nos três dias santos da Páscoa da Ressurreição.
Diz Senna Freitas nas suas Memórias de Braga -1890, que no início do século XIX figuravam no altar-mor as imagens de Santo Adrião e sua mulher Santa Natália. Ainda na mesma época, e de acordo com o autor, por testamento do Desembargador António Carneiro Tinoco, que vivia numa quinta perto, a capela foi enriquecida com dois altares laterais: no altar da parte do Evangelho se achavam as imagens do Menino Jesus, Nossa Senhora e S. José; e no da Epístola, as imagens de S. Vicente Ferrer e S. Francisco Xavier.
Ao longo do século XX a capela ganhou crescente importância ao tornar-se na principal casa de culto dos núcleos populacionais que entretanto foram surgindo em seu redor. Essa importância foi redobrada em 1983 por elevação a capela paroquial com a criação da nova paróquia de Sto Adrião.
Em 1992 foi descaraterizada pelas obras que nela efetuaram, por remoção do reboco exterior e interior e da talha dos altares.
Os serviços de culto foram entretanto transferidos para a nova igreja.

Orago: Santo Adrião de Nicomédia, que é comemorado a 8 de setembro.