Ontem, seguindo um ritual habitual nas minhas deslocações ao
café, folheei um jornal local, e retive com o descomprometimento que a situação
exige, os seus títulos mais expressivos, ou mais bombásticos, se assim se podem
classificar, até chegar às últimas páginas, onde, irrefletida mas irremediavelmente
os olhos poisaram na secção obituária.
Uma fotografia trazia à primeira impressão a imagem de uma
pessoa conhecida; um antigo companheiro de escola, de relacionamento distante,
que encontrei quinze dias atrás, e com quem, posteriormente, troquei
informações por via eletrónica. O nome anunciado parecia consolidar a
informação inicial, e a localidade do desenlace, coincidente com a da sua
residência, confirmava-a definitivamente.
O Xico havia morrido. De quê, se poucos dias antes não
aparentava problemas de saúde? É certo que a vida parecia não correr-lhe de
feição, mas isso infelizmente, é uma sina que a todos vai tocando.
Provavelmente foi uma traição do coração, pensei eu, e com isso alimentei mais
uma vez a ideia de que não devemos ralar-nos em demasia com as agruras da vida.
É um lugar-comum na luta e relativização das dificuldades que se nos colocam.
De qualquer forma a notícia entristeceu-me e dela fiz a
propaganda que julguei ser merecedora.
Não tive possibilidades de comparecer no funeral, a que
moralmente me sentiria obrigado, apesar de ter a plena convicção que o defunto
não repararia e consequentemente não me censuraria.
À noite, ao aceder ao meu correio eletrónico, verifiquei ter
acabado de receber uma mensagem do suposto defunto, o que naturalmente me
deixou perplexo. Nova mensagem chegou no início do dia de hoje.
Não acreditando nas vozes do além, nem tão pouco que nesse
além haja serviço de Internet, resolvi esclarecer a situação, telefonando-lhe.
O Xico atendeu. Afinal o Xico não morreu.

