18 março 2010
O incêndio
No início da passada semana Braga foi surpreendida por um acontecimento inédito na sua história. Refiro-me ao incêndio ocorrido no edifício mais alto do burgo, ainda em fase de conclusão, futuras instalações do hotel mais estrelado da cidade e arredores.
À surpresa sucedeu a perplexidade dos bombeiros locais não disporem de uma escada apropriada para casos tais, necessária ao combate mais eficaz às chamas, sujeitando-se à humilhação de terem de recorrer aos préstimos de duas corporações vizinhas, sediadas em localidades que pela sua dimensão, menores responsabilidades têm no confronto com este tipo de situações.
A coisa não caiu bem, e forneceu substrato à classe que faz da crítica a sua forma de estar, que não se coibiu de zurzir em todas as direcções, opinando sobre aquilo que deveria ser a mais correcta postura das autoridades e sugerindo até medidas eficazes para a prevenção de tais ocorrências.
A oposição bafejada com o mal dos outros, agradeceu o providencial acontecimento, chegado fora de época, é certo, para mais uma vez atacar os responsáveis pela edilidade e reiterar a denúncia dos costumados, segunda ela, erros de que enferma a sua política urbanística.
Vieram então à praça os sapadores defender o seu bom nome, e também a dedicação e profissionalismo dos seus homens, garantindo disporem dos meios materiais e humanos necessários para refrear este tipo de adversidades; que até dispunham de duas escadas, uma, verdade seja dita, cuja avançada idade não lhe permitiria grandes façanhas, e outra, mais moderna, que numa das poucas oportunidades para mostrar a sua valia, recentemente ocorrida, galgou um passeio e capotou, estando agora sujeita a tratamentos vários, necessários à recuperação da sua operacionalidade.
Espantado fiquei quando no final da tarde de sexta-feira, de regresso a casa, ao circular nas imediações do quartel dos bombeiros, deparei com um inusitado intruso no habitual enquadramento paisagístico, que lhe roubava a monotonia e assumia uma atitude provocatória. Era uma escada “magirus” na sua imponência, e como diz alguém, firme e hirta, erecta aos céus. Mostrava que existia e que estava ali para o que fosse preciso, desmentindo as vozes da maledicência e sossegando os temores dos mais sugestionados munícipes.
Esperemos agora que na próxima vez que seja posta à prova, como todas as coisas que se soerguem e estendem, não comprometa os seus.
01 março 2010
O fim duma carreira
Numa das minhas incursões culturais, como forma de combater o ócio das férias grandes, enquanto visitava uma exposição de arqueologia patente ainda nas instalações provisórias do Museu D. Diogo de Sousa, a ocupar espaço no edifício da biblioteca pública, fui abordado por um individuo pretensamente com responsabilidades na orgânica do evento, que me questionou sobre um eventual interesse na frequência de um curso de verão, relacionado com aquela área de investigação.
Após breves explicações sobre a forma como se desenrolaria, sobre o local e o horário do aludido curso, não foi difícil obter a minha aquiescência, uma vez que esta proposta assentava perfeitamente nos meus interesses.
De acordo com o combinado, no início da tarde do sábado seguinte, lá me desloquei para o Conservatório Calouste Gulbenkian, onde foi ministrada a aula a uma plateia composta por pouco mais de uma dúzia de curiosos, nos quais me incluía.
A aula seguinte foi decisiva para o meu futuro na arqueologia.
Em pleno verão, sob uma temperatura tórrida própria dos dias mais agressivos da época, condições que só o amor à causa consentia incursões como aquela que estava a experimentar, decorria a aula com a normalidade esperada, quando a mesma foi interrompida por alguém responsável pela escola: Vinha fazer um pedido. Solicitar um favor.
É que naquele momento iria iniciar-se um concerto de violino para um auditório vazio e a única maneira de enganar o desaire era conseguir a nossa presença, que sempre compunha a sala.
Confesso que nunca fui entendido em música e muito menos adepto do violino, circunstâncias que não impediam a franca colaboração que a situação recomendava.
O espectáculo para mim foi penoso, tão penoso que não há memória de alguma vez ter encontrado uma cadeira tão desconfortável.
Escusado será dizer que na primeira oportunidade esgueirei-me porta fora, dando assim por terminado o curso proposto, perdendo-se, quem sabe, um promissor arqueólogo.
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