09 setembro 2020

 

GAIVOTAS CAGONAS

 

Estamos em setembro. As temperaturas estivais mantêm-se, convidando a uma ida à praia àqueles que o podem fazer. O mar espraia-se numa acalmia impressionante, num areal já pouco concorrido e apenas sujo pelos resquícios das algas que a ondulação pachorrentamente lhe atira.

Convidada, a minha mulher acompanha-me na curta caminhada pela fronteira que separa a água da areia. Os pés enterram-se na areia húmida e com acertada cadência são submersos pela água fria do mar, tão fria que até enrijecem e torturam os tornozelos.  Enleva-se na procura de conchas e lapas.

Eu, focado noutros horizontes, mantenho a regularidade da passada, e não me apercebo do distanciamento que então se vai criando, mas com a noção de que alguém me faz companhia.

À minha frente, duas gaivotas complementam a sua dieta, debicando afoitamente o sargaço que se espraia, e comento:

- Estas aves são bonitas; pena é serem tão cagonas.

- Como? – Diz-me a pessoa que ao meu lado caminha.

- Peço desculpa, julguei que estava a falar para outra pessoa. – Respondi.

 

Setembro 2020