GAIVOTAS CAGONAS
Estamos em setembro. As
temperaturas estivais mantêm-se, convidando a uma ida à praia àqueles que o
podem fazer. O mar espraia-se numa acalmia impressionante, num areal já pouco
concorrido e apenas sujo pelos resquícios das algas que a ondulação
pachorrentamente lhe atira.
Convidada, a minha mulher
acompanha-me na curta caminhada pela fronteira que separa a água da areia. Os
pés enterram-se na areia húmida e com acertada cadência são submersos pela água
fria do mar, tão fria que até enrijecem e torturam os tornozelos. Enleva-se na procura de conchas e lapas.
Eu, focado noutros horizontes,
mantenho a regularidade da passada, e não me apercebo do distanciamento que
então se vai criando, mas com a noção de que alguém me faz companhia.
À minha frente, duas gaivotas
complementam a sua dieta, debicando afoitamente o sargaço que se espraia, e
comento:
- Estas aves são bonitas; pena é
serem tão cagonas.
- Como? – Diz-me a pessoa que ao
meu lado caminha.
- Peço desculpa, julguei que
estava a falar para outra pessoa. – Respondi.
Setembro 2020

