19 dezembro 2018

Quando o telefone toca


Cheguei já depois da hora marcada.Com surpresa, encontrei a sala de espera repleta, como nunca a tinha visto. Disseram-me depois que à segunda-feira é normal que isso aconteça.
As pessoas que aguardavam a chamada para serem atendidas pelos médicos mantinham-se serenas, conversando umas em surdina, outras lendo os jornais disponíveis ou dedilhando no telemóvel. O ambiente era de relativa calma.
Pouco depois de me ter instalado, chegou uma jovem mulher, acompanhada de duas crianças traquinas. Com elas vinha uma outra mulher mais velha, ao que tudo indicava, ser avó das miúdas.
Como que num golpe de magia, o sossego daquele espaço ficou de pronto abalado com a irrequietude e a irreverência das crianças, que na hora fizeram dele uma espécie de parque infantil. Coisas próprias da idade e da condição.
Também a avó partilhou da algazarra instalada quando iniciou uma conversa ao telemóvel. Não me apercebi se foi da sua iniciativa ou de alguém que lhe ligou. Era certamente um contacto de pessoa muito chegada. A conversa entusiasmava-a e não evitava uma recrudescente entoação, que inevitavelmente ia suscitando a atenção dos presentes e começava por assumir proporções de irritação.
Eis que, estridentemente um telemóvel tocou. Espantados ficaram todos quando constataram ser o mesmo em que supostamente a senhora falava.
- Porra, estava a falar para o boneco.
 Foi a reação dela.