Inesperadamente, à esquerda de
quem tinha deixado Madrid a alguns
quilómetros atrás, surge, sobrepondo-se aos cumes dos montes que a
rodeiam, uma imponente cruz granítica,
dominadora de toda uma vasta paisagem pedregosa e desabitada que a circunda.
Já lá tinha passado há cinco
anos, na altura em que visitei o Escorial, mas, não tendo intenção de o
apreciar, também não o poderia fazer, uma vez que estava vedada a entrada a
visitantes por motivo das obras que nele decorriam. Estou a falar do Vale dos Caídos,
memorial aos combatentes das forças nacionalistas espanholas que morreram na
contenda fratricida do terceiro decénio do século passado, mandado erigir pelo
regime franquista, que simultaneamente evocava a vitória na guerra civil e
servia de veículo propagandístico do regime instaurado pelas forças vencedoras.
Era por isso ponto de passagem obrigatório para todos aqueles que visitavam
Madrid.
As coisas entretanto mudaram. Se
não fosse este visionamento, não me ocorreria sequer a lembrança do monumento.
Com efeito, não encontrei qualquer roteiro turístico que o aludisse e mesmo a
sinalética orientadora do trânsito a ele faz referência de uma forma
disfarçada, como que envergonhada.
Fruto dos tempos e das alterações
políticas entretanto ocorridas. Não sendo recomendável a omissão dos factos que
dividiram o povo espanhol, cujas consequências se mostraram trágicas, manda o
bom senso que não se fomente doravante as divergências e a intolerância tão
malévolas ao progresso e estabilidade da nação espanhola, mas se contribuía
para a fraternidade e apaziguamento dos povos que a integram.

