12 abril 2010
11 abril 2010
Macieira
O João era pintor de automóveis, rapaz diligente, assíduo, interessado e brioso naquilo que fazia. Era um bom profissional.
Gostava muito de mulheres, podemos até dizer ser esse o único vício que se lhe conhecia, fazendo por e para elas tudo o que fosse necessário para lhes cair no goto. Por isso, apostava forte na promoção da sua imagem, investindo parte significativa do salário em roupas e o restante noutras extravagâncias.
Não tendo vícios, também não se coibia de puxar de cigarro ou meter-se nos copos, sempre que os fins o justificassem.
Na sua cruzada de marialva não conhecia fronteiras nem receava contrariedades, mostrando uns tiques de ousadia, desfaçatez e atrevimento, que, julgava ele, lhe emprestavam uma superioridade e proeminência invulgares.
Mas a manutenção deste estado de espírito era trabalhosa e por vezes, não poucas, esbarrava em obstáculos incontornáveis, parte deles, os mais pertinentes, eram-lhe próprios: o de não conseguir esconder completamente, por mil tentativas que fizesse, a tinta que no exercício da sua profissão teimosamente se agarrava às extremidades das unhas; e o descontrole emocional que se manifestava sempre que por qualquer circunstância era beliscada a sua auréola de proclamada autoconfiança.
A testemunhar esta última fraqueza existem muitos casos, alguns deles a motivarem o júbilo e troça de quem o acompanhava, como aquela ida a um bar que visitava pela primeira vez. Quando o empregado se abeira e pergunta o que pretendia, o João, num timbre de voz firme e colocado, solicita:
-Traga-me uma Macieira – que era a bebida da moda.
- De cinco ou três estrelas? – questiona o empregado.
Maldita interpelação que pôs a nu a sua ignorância. Desconhecia completamente a existência destas duas alternativas que a marca oferecia. O verniz mais uma vez estalou e furioso rematou:
-O senhor está a gozar comigo ou quê?
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